Existem duas concepções teóricas fundamentais na psicomotricidade: a imagem corporal e o esquema corporal.

Originalmente, tais conceitos pertencem a outras áreas do conhecimento.

Algumas vezes não apresentam contornos conceituais muito bem definidos, se justapõe ou são utilizados como equivalentes, o que pressupõe uma certa confusão teórica, conceitual e prática.

 

ESQUEMA CORPORAL

O esquema corporal é o resultado da construção das funções psíquicas superiores e diz respeito à a atenção, à memória, à fala, ao pensamento lógico-verbal e ao movimento voluntário.

Campo neurofisiológico .

O esquema corporal se constrói por meio da síntese de dados sensoriais, extereoceptivos e proprioceptivos, e, consequentemente, de uma integração cognitiva. A relação com o outro é determinante, mas apenas como modelo visual e auditivo.

“O esquema do corpo é a imagem tridimensional que todos tem de si mesmos”.

(Paul Schilder, médico psiquiatra, austríaco e autor do livro “”Imagem do Corpo” de 1935)

O esquema corporal seria parecido em todas as crianças de uma mesma idade, cultura e época.

Entretanto, não há como pensar o funcionamento do esquema corporal sem a contribuição da função imaginária.            E é aí que começamos a falar de uma imagem corporal.

 

IMAGEM CORPORAL

A imagem corporal abarca a subjetividade, a imagem consciente do corpo.

O modo como cada um se vê está determinado por muitas fatores, entre eles os acontecimentos vividos na tenra infância.

As experiências sensório-motoras mediatizadas pela mãe, através do olhar, contato corporal, carícias, mímicas, gestos, presença alfativa, voz e palavra moldam a subjetividade do bebê e influenciam o seu desenvolvimento emocional.

No conjunto de processos que contribuem para a formação da Imagem Corporal existe um destaque especial para o estágio do espelho, por volta dos 10 meses.

Vejamos o que Wallon, Lacan e Winnicott falam sobre isso:

Para Wallon, é um processo essencialmente tônico-postural, uma imagem que se constrói gradativamente pelo amadurecimento do equipamento neuro-fisiológico.

Para Lacan, o Estádio do Espelho é uma etapa fundamental, não só pela constituição do corpo próprio, mas pelo acesso da criança ao mundo da linguagem, ao simbolismo.

            Ele atribuiu à imagem papel fundador na constituição do eu e na matriz simbólica do sujeito,

Winnicott se inspirou em Lacan para introduzir em sua obra o conceito de espelho no rosto materno. Para Winnicott, a metáfora do espelho do rosto materno reveste um papel de destaque e uma função decisiva no processo da constituição do self da criança.

Para Winnicott, as principais metamorfoses pelas quais passa o espelho do rosto materno na constituição do self da criança são:

  • a relação do falso espelho (ou do espelho-vidro) com a mãe invasiva e intrusiva, tendo como consequência a constituição de um falso self, e
  • O verdadeiro espelho e sua relação com a mãe suficientemente boa e com a constituição do verdadeiro selfda criança.

A imagem corporal é extremamente dinâmica e apresenta uma plasticidade que permite transformações durante a vida. Mas, independente das transformações, para a saúde psíquica do indivíduo é necessário que haja um sentimento de continuidade de ser.

“A imagem e o esquema corporal inter-relacionados e integrados são citados sistematicamente na literatura psicomotora e podem ser considerados “o pilar da psicomotricidade”. O objeto de estudo que traduziria a especificidade psicomotora estaria destinado á Imagem e ao Esquema Corporal, essencias à constituição saudável, retratando aspectos inconscientes e conscientes”. (Morizot, 2010, “Psicomotricidade na Saúde)